Cláudia Renata Carneiro Sardenberg mora em São Caetano do Sul, São Paulo, é graduada em Medicina pela Universidade São Francisco, tem especialização em Pediatria , em Terapia Intensiva Pediátrica e também em Homeopatia pelo Instituto de Cultura e Escola Homeopatica (ICEH). É mãe de duas filhas, hoje com 9 e 6 anos. Acabei conhecendo a doutora por um desses "acasos da vida" e ao conversarmos sobre minhas pesquisas a respeito da polêmica em torno da existência ou não da Dislexia e do TDAH, ela confidenciou-me ter vivido a mesma situação que milhares de pais enfrentam ao serem convocados pela escola para ouvirem: "Seu filho apresenta dificuldades de aprendizagem e não está acompanhando a turma".
A experiência relatada abaixo é um exemplo do que ocorre na prática. O diagnóstico é difícil de fechar e, muitas vezes, dependendo do especialista, é dado de forma diferente. Fato que torna ainda mais doloroso a situação para os pais, para as crianças e para a escola que ao intermediar o processo fica entre a cruz e a espada.
A ENTREVISTA
Vanessa Martos Gasquez – Como ficou sabendo que sua filha provavelmente seria portadora do TDAH e da Dislexia? Já tinha ouvido falar sobre isso?
Cláudia Renata Carneiro Sardenberg – Sim, já tinha conhecimento sobre o TDAH e a Dislexia pois, sou médica pediatra. No entanto, não tinha experiências pessoais no assunto. Quando minha filha mais velha estava no 1º ano (aos 6 anos de idade) fui chamada na escola devido as suas dificuldades de comportamento que refletiam em sua alfabetização.
Vanessa - Então, foi a escola dela que indicou a necessidade de encaminhá-la a algum especialista médico?
Cláudia - Como eu já achava que as dificuldades no comportamento dela necessitavam de avaliação e por orientação da psicopedagoga da escola decidimos consultar uma neuropsicóloga. Isso foi em 2008, quando ela estava com 6 anos, e esta profissional fez várias avaliações em 4 ou 5 sessões. Detectou Déficit de Atenção e indicou terapia com fonoaudiologa. Não fomos à neuropediatra e o uso de Ritalina não foi questionado naquele momento. De qualquer forma, já havia manifestado minha opinião em despeito à Ritalina, sou a favor da Homeopatia.
Em 2010, decidimos fazer o diagnóstico na ABD (Associação Brasileira de Dislexia). No laudo que recebemos, eles não colocaram explicitamente o TDA (Transtorno do Déficit de Atenção). Foi apenas escrito: .... com base na desatenção, das dificuldades descritas na avaliação fonoaudiológica, na alteração do processamento auditivo central e nos dados obtidos na avaliação neuropsicológica podemos concluir que a menina apresenta transtorno especifíco de leitura (Dislexia) associado ao quadro de desatenção"...
Vanessa- Qual decisão vocês tomaram?
Cláudia - Iniciamos a terapia com fonoaudiologa e continuamos o tratamento homeopático.
Vanessa – Em algum momento a escola propôs uma metodologia pedagógica diferente para a menina poder superar as dificuldades de aprendizagem?
Vanessa – Em algum momento a escola propôs uma metodologia pedagógica diferente para a menina poder superar as dificuldades de aprendizagem?
Cláudia - Tive problemas com a escola. Ao sentir suas dificuldades, minha filha apresentava atitudes de rebeldia ou fazia coisas pra chamar atenção, como por exemplo, fugia das atividades. Então, a escola colocava ela de castigo. Quando estava para iniciar o 3º ano, eu e meu marido resolvemos trocá-la de escola, o que renovou os ânimos. Nesta segunda escola, a suspeita de Dislexia foi fortemente levantada pela fonoaudióloga que a acompanhava. Por isso, resolvemos procurar a ABD para confirmar o diagnóstico. Nesta escola, eles não diferenciam a metodologia porém, a ajudam quando ela não consegue acompanhar a turma e aplicam e corrigem as provas de forma diferenciada.
Vanessa – Quando a escola chamou vocês para uma "conversa particular" como foi esse momento?
Vanessa – Quando a escola chamou vocês para uma "conversa particular" como foi esse momento?
Cláudia - Na primeira conversa, não foi uma surpresa mas, é claro que balança a estrutura. Eu, particularmente, me sentia sem chão pois, é um distúrbio difícil de conviver. Tive que trabalhar uma paciência que desconhecia e ao mesmo tempo que "perdia a paciência" sentia uma angústia muito grande. Queria ajudá-la mas, sabia que não podia tirar "este problema" da vida dela, apenas apoiar e "tentar" ajudar. Logo depois do diagnóstico, acredito que a melhor coisa que eu fiz foi iniciar a terapia (eu mesma). A terapia e a religião (da qual me reaproximei) me deram base e suporte para enfrentar a situação e apoiá-la.
Vanessa – Qual sua opinião sobre o TDAH e a Dislexia?
Cláudia - Acho que estes distúrbios existem sim. Não concordo com algumas opiniões de que foram inventados porém, acredito que o diagnóstico necessite uma avaliação multidisciplinar de forma gradual e não em apenas uma consulta, diagnosticá-los e tratá-los. Essas dificuldades, acredito, aparecem para uma família com o objetivo de unir e modificar conceitos. Essas crianças precisam, antes de qualquer medicamento ou terapia, da dedicação de pai e mãe. Acredito ainda que muitos precisam de medicação mas, apenas a medicação não resolve.
Vanessa - Na condição de mãe e de médica pediatra e homeopata poderia deixar um conselho, até mesmo um desabafo, aos pais que vivem o mesmo drama vivenciado por vocês?
Cláudia - Meu conselho é que os pais voltem as atenções aos filhos. Também acho que a terapia familiar é fundamental no processo porque mais do que o tratamento do TDAH e da Dislexia, a ACEITAÇÃO PELA FAMÍLIA é o principal, sem a qual, nenhuma medicação ou terapia resolverão o problema.
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