|
Public Domain Pictures |
Está acontecendo uma pesquisa muito interessante na Universidade
Federal do Espírito Santo. Um grupo de pesquisadores, ligados ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em
Subjetividade e Política, o NEPESP, busca contactar adultos que foram
diagnosticados TDAH para pesquisar o impacto que um laudo positivo tem na vida
destas pessoas bem como a questão da medicalização.
A pesquisa está sendo coordenada por Luciana Caliman, pós-doutora em Psicologia
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
doutora e mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Atualmente Caliman é professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo.
Entrei em contato com a pesquisadora para saber mais informações e ela concedeu a entrevista abaixo, por email em
28/11/2011.
Vanessa Martos Gasquez -
Por que escolheu pesquisar o impacto que o diagnóstico de TDAH tem em
indivíduos adultos? A Dislexia também entra na pesquisa?
Luciana Caliman
– Desde o doutorado
tenho trabalhado com a temática da atenção e (des)atenção e o TDAH e este
diagnóstico está no foco do meu trabalho. Ao discutir o processo de expansão do
TDAH, falamos que ele se expandiu interna e externamente: interna, porque a
categoria cresceu, se alargou para incluir outros sintomas e outros grupos
etários, como o adulto; externa, porque cada vez mais o TDAH tem alargado as
fronteiras espaciais de seu mapa epidemiológico. Daí surge a necessidade de
pesquisar o diagnóstico adulto, que é super recente e nem sequer é totalmente
incluído no DSM IV.
Agora estou desenvolvendo outras pesquisas, especialmente
no que diz respeito às políticas de educação e saúde voltadas para o TDAH. Na
saúde, estamos pesquisando as políticas da Assistência Farmacêutica do Espírito
Santo, voltadas para o transtorno, já que o Estado dispensa o Metilfenidato
(Ritalina) pelo SUS. O número de adultos diagnosticados tem crescido significativamente
e de forma acelerada, enquanto quase nenhuma pesquisa de caráter
qualitativo tem sido feita para acompanhar os efeitos deste crescimento.
Muito se fala sobre
os riscos de problemas cardiovasculares associados ao consumo do remédio
Metilfenidato, especialmente em adultos, mas poucas são as iniciativas de
estudos que acompanham o efeito a longo prazo do medicamento no adulto. Por
outro lado, meu objetivo maior é pensar o impacto não do medicamento, que é
super importante, mas do diagnóstico na vida das pessoas diagnosticadas. Vejo o
diagnóstico como uma tecnologia subjetiva que produz efeitos existenciais,
políticos e sociais e quero analisar que efeitos são estes. Não trabalho
diretamente com a Dislexia, mas quando analisamos o efeito de um diagnóstico
psiquiátrico na vida das pessoas diagnosticadas, percebemos que alguns efeitos
podem ser generalizados para outros diagnósticos.
VMG - Poderia resumir em qual momento da pesquisa a professora está?
LC - Então, a pesquisa do pós-doutorado foi finalizada em
2009, mas muitas coisas do material produzido ainda estão sendo analisadas e
repensadas. Parece que nunca efetivamente terminamos uma pesquisa quando
continuamos estudando o assunto!
Aqui no Espírito Santo, esta pesquisa se desdobrou em outra
que está em seu início e que definimos como pesquisa-intervenção. No semestre
que vem, começaremos a realizar rodas de conversa com adultos diagnosticados
com TDAH que retiram o medicamento (Metilfenidato) na farmácia cidadã
metropolitana. Nosso objetivo é dar voz à experiência que estes sujeitos têm da
medicação e de serem diagnosticados com TDAH, ou seja, queremos investigar os
efeitos do medicamento e do diagnóstico na vida destas pessoas.
Acreditamos que quando narramos e compartilhamos uma
experiência ela é também alterada, re-significada, interferida pelo processo,
por isso a escolha das rodas de conversa ou da técnica da conversa. Uma
conversa não é monólogo e nem diálogo. Uma conversa é sempre aberta ao
plural, ao que destoa, ao que difere. Uma das coisas que me incomoda na fala
das pessoas que narram a experiência de ser diagnosticado com TDAH, seja em
livros ou na net, é que a narrativa é quase sempre a mesma, a história, os
nomes, os apelidos, são sempre os mesmos. Buscamos acessar e/ou produzir falas
singulares e encarnadas, que digam do concreto de suas vidas e não apenas
repitam narrativas vendidas pela midia. Pensamos que a vida é mais singular.
VMG - De que forma as pessoas adultas que já foram diagnosticadas
como
portadoras de TDAH poderão ajudar na pesquisa?
LC - Acho que as pessoas que foram diagnosticadas com TDAH precisam
dizer de sua experiência, compartilha-la e também repensá-la na conversa com o
outro. É com base nesta experiência que podemos criar ferramentas para melhor
acompanhar as políticas direcionadas ao TDAH e neste sentido torná-las
efetivamente públicas.
Uma coisa que descobrimos em uma pesquisa anterior que
fizemos aqui no Espírito Santo é que as
pessoas que pegam o Metilfenidato no SUS não o fazem por muito tempo. Por que
será? Podemos indagar, imaginar mas, precisamos dos usuários para dizer o que
realmente acontece.
O Usuário não deve apenas "usar" ou
utilizar o SUS, mas geri-lo, criá-lo, construí-lo. A pesquisa tem também este
caráter, estamos analisando o efeito de uma política pública. Neste caso, desta
pesquisa especificamente, estamos trabalhando com uma população circunscrita:
usuários de Metilfenidato da farmácia cidadã metropolitana de Vitória, ES.
Aqui, não trabalhamos com entrevistas, mas com conversas, o que se aproxima da
técnica dos grupos focais. Por isso,
neste momento estamos fazendo isso de forma presencial. Vejo
possibilidades futuras de poder trabalhar com esta narrativa, via entrevista
pela net, por exemplo.
_____________________________
Quem foi diagnosticado TDAH na fase adulta e tiver interesse em colaborar com a
narrativa da experiência da medicação e do diagnóstico, pode entrar em contato
com a pesquisadora pelo email : calimanluciana@gmail.com
Para conhecer o Núcleo de Estudos
e Pesquisa em Subjetividade e Políticas – NEPESP/CNPq clique
aqui
http://www.ufes.br/ppgpsi/nucleos_nepesp.html
___________________________________________________________________________________________________________
Curta
nossa página no FACE e siga o canal no YOUTUBE para ficar por dentro de todas as
atualizações.
__________________________________
Participe. Comente. Compartilhe.
A informação é o melhor remédio!!!
__________________________