|
Heloisa Villela. Foto: Vanessa Gasquez |
Heloisa
Villela, jornalista, correspondente internacional e mãe de um garoto
diagnosticado TDAH, foi convidada a participar do II Seminário Internacional “A
Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e outros supostos transtornos” para
falar sobre sua história pessoal e os motivos que a levaram a pesquisar e
escrever sobre o TDAH.
Começou a fala
com uma pergunta: - Remédio para TDAH ajuda crianças ou escolas? Logo
depois, contou como foi ter ouvido dos
educadores que seu filho apresentava “algo de errado” e que por isso era
preciso buscar ajuda médica. Relatou ainda como foi a “via-crúcis”: ouviu vários especialistas nos EUA e Brasil
e como alguns deles recomendaram o uso do metilfenidato, decidiu pesquisar mais
sobre o tal remédio e como é feito o
diagnóstico, elaborado, normalmente, via DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais).
“Consegui uma entrevista com o Psiquiatra e professor Emeritus da Unversidade Duke, Dr.
Allen Francês, que presidiu a força-tarefa que elaborou o DSM-IV. Está bastante preocupado com os rumos que
vem tomando a elaboração do DSM-V. Se antes, era possível diagnosticar o TDAH
com apenas 6 dos 10 sintomas previstos pelo DSM-IV, agora com o V, ficará muito
mais fácil porque pretendem baixar para apenas 3 sintomas”, afirmou.
Na entrevista, publicada pelo site
Viomundo, o Dr. Francês afirma achar que existe um aumento surpreendente e
alarmante do número de diagnósticos de TDAH e se segue a isso o excesso de
prescrições de estimulantes. “Parte disso tem a ver com mudanças feitas no
DSM-V mas é, principalmente, consequência da campanha de marketing agressiva da
indústria farmacêutica, que começou três anos depois da publicação do DSM-V. E
foi incentivada por dois motivos: trazer para o mercado novas drogas que ainda
estavam sob patente e por isso mesmo poderiam ser vendidas por um preço alto.
Em segundo lugar, nos Estados Unidos houve uma mudança na regulamentação que
permitiu à indústria farmacêutica fazer propaganda direta ao consumidor,
permitindo a eles colocar anúncios na TV, divulgar informação na internet,
atingir pais, crianças, professores e médicos, especialmente clínicos gerais
que foram encorajados a ver TDAH em comportamentos que antes não eram
considerados parte do TDAH. Isso incentivou diagnósticos fáceis e um grande
aumento no número de prescrições. O DSM-V promete piorar isso tudo ainda mais”,
afirmou.
Por mudanças,
abaixo-assinado!
De acordo ainda com a entrevista, o Dr. Francês afirmou existir
um abaixo-assinado circulando e que cerca de 5.000 profissionais da área de
saúde mental já o assinaram logo na primeira semana. Na opinião dele, se esse
abaixo-assinado decolar e centenas de milhares de pessoas o assinarem, acredita
que o DSM-V vai ter que tomar conhecimento.
Mais
informações...............
A jornalista também escreveu um
artigo no site Viomundo onde fala sobre o livro “Anatomia de uma epidemia”
(tradução literal para o português já que ainda não existe versão na nossa
língua), do escritor Robert Whitaker, ganhador de prêmios na área de jornalismo
científico.
Parte do artigo diz o seguinte:
..... Estamos falando em medicar e alterar, talvez para sempre, a química do
cérebro de crianças de 6, 7 ou 8 anos de idade. E pior, sem saber exatamente o
que está sendo alterado! Os mesmos psiquiatras, que receitam os remédios, não
sabem dizer quais serão as consequências na vida daquele paciente mirim, dentro
de 12, 15 ou 20 anos. Mas ressaltam que tudo é uma questão de custo/benefício.
“Não é melhor a criança conseguir se concentrar para assistir aula e fazer os
deveres?”, costumam perguntar. Uma amiga minha ouviu o seguinte: “Você não quer
que o ambiente, na sua casa, se torne mais tranquilo?” Mãe de quatro filhos, o
mais velho com 9 anos, ela garantiu que não. Se estivesse procurando sossego,
não teria uma prole tão vasta.
Se os psiquiatras não sabem
dizer o que vai acontecer com as crianças medicadas, as estatísticas já dão
motivo de sobra para preocupação. Os estimulantes usados para tratar a
TDAH (ritalina e seus derivados) provocam uma montanha-russa diária nos
sentimentos da criança. Ela sente o coração apressado pela manhã, depois de
tomar o remédio. Algo estranho se passando por dentro do corpo, que deixa a
criança quieta, calada e atenta. No fim do dia, normalmente, existe uma
explosão de raiva, choro. É como diz o Whitaker: “Toda criança, sob o efeito de
estimulantes, se torna um pouco bipolar”.
O doutor Joseph Biederman e a
equipe do Massachussetts General Hospital mostraram, em 1996, que 11% das
crianças diagnosticadas com TDHA, quatro anos depois foram diagnosticadas com
bipolaridade, doença que não fazia parte do quadro inicial. Em 2003, o
psiquiatra Rif ElMallakh, da Universidade de Louisville, costatou que 62% dos
pacientes jovens com bipolaridade já haviam sido tratados com estimulantes e
antidepressivos antes de apresentarem bipolaridade. E Gianni Faedda descobriu
que 84% das crianças tratadas com bipolaridade na Luci Bini Mood Disorders
Clinic, de Nova York, entre 1998 e 2000, já tinham sido expostas a remédios
psiquiátricos......
E, termina concluindo: .....duvido
que professores e diretores das escolas americanas, que descrevem os
estimulantes como algo simples e necessário tal qual os óculos para os míopes,
tenham alguma noção a respeito das possíveis consequências da medicação no
longo prazo. Duvido que saibam diferenciar entre uma criança que tem problemas
mentais agudos e talvez precise de remédios, de outra com alguma dificuldade de
aprendizagem associada a um momento pessoal difícil, que produz um quadro
parecido com a TDAH.
Mas eles são rápidos em
sugerir uma visita ao pediatra ou, imediatamente, ao psiquiatra. E a avaliação
dos professores, a respeito do comportamento dos alunos, em sala de aula, tem
um peso enorme no diagnóstico final. Me parece que o assunto é muito sério e
que os professores, por melhores que sejam, não estão capacitados para sugerir
a necessidade de algum tratamento psiquiátrico.
Os remédios, com certeza,
tornam mais administrável a sala de aula com quase 30 crianças. Já pensou se
várias forem levadas da breca? Não pararem sentadas um minuto? Todas levam para
a classe os problemas que trazem de casa. Mas eu sempre me pergunto o que
faziam a Tia Rosa e a Tia Bela (juro que esses eram os nomes das minhas
professoras primárias!). Também tínhamos uma sala de aula cheia. E me lembro
bem de ter de sentar ao lado do pestinha da turma e chegar em casa com as
maria-chiquinhas destroçadas de tanto que ele puxava meu cabelo, tentando sair
da carteira. O que será que essas Tias-professoras têm a dizer dessa epidemia
de TDAH?
______________________________________________
Para ler na íntegra a entrevista
com o Dr. Allen Francês, clique
aqui.
Para ler na íntegra o artigo da
jornalista Heloisa Villela, clique
aqui.
Para saber sobre o Seminário, clique
aqui.
Para saber sobre o DSM-V, clique
aqui.
___________________________________________
Curta
nossa página no FACE e siga o canal no YOUTUBE para ficar por dentro de todas as
atualizações.
Participe. Comente. Compartilhe.
A informação é o melhor remédio!!!