Ser criança ou adolescente hoje em dia pode ser sinônimo
de agenda cheia. Não de brincadeiras e nem de tempo para descobertas, mas
repleta de compromissos de gente adulta que exigem um grau de amadurecimento
que elas ainda não atingiram. O vídeo
acima é um exemplo concreto desta crua realidade. Embora sejam entrevistas com
alunos dos Estados Unidos, elas refletem o sentimento unânime de pressão,
vivenciado por alunos tanto de lá como daqui e de qualquer outro país no mundo
que utiliza provas de mensuração para dizer qual escola ou aluno é melhor que
outro. Talvez a única diferença que
possa ser citada é o fato de que nos EUA as crianças também recebem um saco de
vômito junto com o kit da prova, conforme relatou o neurologista infantil
Steven Lawrence Strauss, do Franklin Square Hospital, durante o II Seminário
Internacional sobre “A Educação Medicalizada: Dislexia, TDAH e outros supostos
transtornos”, que aconteceu entre os dias 11 a 14 de novembro na Universidade Paulista
(UNIP).
Essas avaliações fazem com que todo o sistema educacional
mire os esforços não na formação sadia de um futuro cidadão, mas sim na
formação voltada a um conteúdo formatado em padrões que são os exigidos por
essas provas.
O índice de mensuração internacional mais conhecido é o
PISA, do qual o Brasil faz parte e está na 53ª
posição. Em nível federal temos
a Prova Brasil e o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica).
Cada Estado também pode elaborar sua prova de mensuração. Em São Paulo, por
exemplo, temos o SARESP. Para o Ensino
Fundamental I, o SARESP realiza provas
para as turmas do 3º e 5º ano, ou seja, envolve crianças com idades de 8 e 10 anos.
Para as crianças dos 5º anos, as provas são aplicadas como
se fossem um verdadeiro concurso público, com direito a todos os requisitos.
Vejam só se não tenho razão: não é a professora da turma quem aplica as provas,
quem aplica é outra professora, de outra escola, muitas vezes uma completa
desconhecida para a turma. Vem também um fiscal externo acompanhar todo o
procedimento. Quando as provas são entregues, as crianças são orientadas a não
virar antes do tempo determinado, escrito na lousa, igualzinho a um concurso
público: horário de início tal, horário de término tal, tempo mínimo de permanência tal........... e...........
caso... queiram ir ao banheiro ou tomar
água................ chama-se o fiscal! É ele quem acompanhará a criança até o bebedouro ou banheiro......
igualzinho a um concurso público de verdade........com a exigência até de preencher à caneta aqueles gabaritos lidos por computador... a única diferença é que não assina a prova..... apenas escreve o nome completo rs... .e isso porque estamos
falando de crianças cuja idade gira em torno de 10 anos!!!!!!
Será que isso não
foi levado em conta? Nossa.................. tenho tanta curiosidade de saber
desses profissionais que elaboram todo esse esquema de provas se por acaso eles
lembraram-se de que se trata de crianças, que de acordo com Jean Piaget, ainda
encontram-se transitando entre a fase final operatória e a operatória concreta
do desenvolvimento cognitivo? Traduzindo: isso significa na prática que ainda
não estão maduras o suficiente para encararem um procedimento que envolve
responsabilidades de adulto e que em muitos casos, dependendo do resultado
final, decide valores de verbas e bônus financeiros às escolas e professores.
Não é muita pressão?
Concorda comigo?
Peraí que ainda não terminei......
Sabia também que já está rolando um teste para crianças de creche e de educação
infantil? É verdade! Crianças de 0 a 6 anos estão sendo avaliadas via ASQ (Ages & Stages
Questionnaires), teste elaborado pelos EUA, importado pelo governo
brasileiro e sendo testado em fase
piloto no estado do Rio de Janeiro.
De acordo com reportagem
publicada no site da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República, para cada faixa de idade existe um questionário com 30 perguntas que
avalia o desempenho da criança em diferentes quesitos: comunicação, coordenação
motora, resolução de problemas e capacidade de socialização. Além de medir o
estágio de desenvolvimento infantil, o ASQ traz sugestões de atividades a serem
desenvolvidas pelos educadores com crianças que apresentaram déficit de
desenvolvimento em cada faixa etária.
Aonde vamos parar???????
Alguém aí arrisca uma
resposta?
Eu acho que um dos motivos do
aumento de diagnósticos de TDAH e Dislexia tem relação com essa pressão toda.
Cria-se um padrão de excelência que exige a homogeneidade nos saberes adquirida
nos mesmos moldes de uma linha de produção fordista e toyotista......
quando............ na............ verdade.............. o que precisamos mesmo é voltar a atenção a que tipo de ser humano os governos pretendem que as escolas possam
formar..................
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A informação é o melhor remédio!!!
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Para saber mais sobre o projeto piloto brasileiro do teste
ASQ clique aqui.
Para saber mais sobre o resultado brasileiro no PISA, clique
aqui
Para conhecer a Prova Brasil, clique aqui
Para saber sobre o SARESP, clique aqui
Caríssima Vanessa.
ResponderExcluirExcelente artigo. Preocupante o molde em que desejam encaixar as nossas crianças ao invés de perceber a sua forma de aprendizagem dentro das peculiaridades de cada uma delas.
Se o teste é indispensável, por que não se inclui a matéria "Ética"? Daria pra saber se tanta leitura e alto/baixo desempenho tem influenciado o comportamento sócio-afetivo delas fazendo com que sejam seres humanos mais altruístas?
O que estamos fazendo com nossas crianças?